Papa Francisco condena na ONU “a asfixia dos povos pelo sistema financeiro”
Em seu discurso na Assembleia Geral das ONU, sábado, o Papa Francisco defendeu que os organismos financeiros internacionais devem passar a “cuidar do desenvolvimento sustentável”, em vez de praticar “asfixia” com “sistemas de crédito que, longe de promover o progresso, submetem as populações a mecanismos de maior pobreza e dependência”.
O papa propôs que se estabeleça o princípio da igualdade dentro dos sistemas de decisão da ONU e também no sistema financeiro internacional. O Papa salientou “que a reforma e a adaptação dos povos é sempre necessária para progredir até o objetivo último de conceder a todos os países, sem exceção, uma participação real e equitativa nas decisões”. “É necessária uma maior equidade nos corpos com efetiva capacidade, como o Conselho de Segurança, da mesma forma que nos organismos financeiros ou grupos especialmente conformados para enfrentar a crise econômica, para ajudar a mitigar todo tipo de abuso ou usura com os países em vias de desenvolvimento”, acrescentou. Recentemente a Assembleia Geral da ONU aprovou – com o voto contrário dos EUA, Alemanha, Inglaterra, Canadá, Israel e Japão - um “marco regulatório” para a reestruturação da dívida dos países junto aos bancos, reconhecendo que são ações soberanas das nações. A medida barrou a ação especulativa, sem qualquer controle, dos chamados fundos abutres.
Na Assembleia, que também deu início à Cúpula sobre Desenvolvimento Sustentável, o Papa ressaltou que “a promoção da soberania do direito, a justiça, é requisito indispensável para obter o ideal da fraternidade” e que “nenhum indivíduo ou grupo humano pode se considerar onipotente nem autorizado a passar sobre os direitos de outras pessoas ou agrupações”. “A exclusão econômica e social é uma negação da fraternidade humana e um gravíssimo atentado à dignidade humana e ao meio ambiente. Os mais pobres são os que mais sofrem. São descartados pela sociedade, obrigados a viver do que é descartado e sofrem as consequências da agressão ao ambiente. Esta é cultura do descartável”.
Propondo a adoção de uma agenda para o enfrentamento ao crescimento das desigualdades, o bispo de Roma exortou à tomada de ações que não sejam somente decorativas. É preciso que os governantes demonstrem “uma vontade efetiva para melhorar o ambiente e vencer os fenômenos de exclusão social e econômica com sua triste consequência de tráfico de seres humanos, comércio de órgãos, exploração sexual de crianças, tráfico de drogas e de armas, terrorismo e crime internacional organizado”, destacou.
Francisco lembrou o herói-pesonagem Martín Fierro, de José Hernández: “que os irmãos sejam unidos, porque essa é a lei primeira, tenham união verdadeira, em qualquer tempo que seja, porque se entre eles brigam, devoram-nos os de fora".
Após um mar de aplausos, um coro entoou “Duerme, negrito”, cantiga da cultura popular hispânica gravada por Atahualpa Yupanqui e popularizada por Mercedes Sosa que denuncia a opressão no campo
Jornal Hora do Povo SP