Charlie Hebdo expele seu racismo e covardia contra o garoto sírio Aylan





O pai do pequeno Aylan, o menino de três anos que morreu afogado na travessia do mar Egeu entre a Turquia e a Grécia e se tornou símbolo da tragédia dos refugiados sírios, chamou de “imoral e desumana” a charge da publicação racista francesa Charlie Hebdo, assinada pelo próprio editor Riss, que mostra um homem correndo atrás de uma mulher sob o seguinte título: “imigrantes: no que teria se transformado o pequeno Aylan se tivesse crescido?” e responde: “apalpador de bundas na Alemanha”.
Abdullah Kurdi disse em conversa por telefone com a AFP que “chorou quando viu a charge”. No naufrágio, além do pequeno Aylan morreu sua mãe e um irmão do menino; a família havia fugido de Kobani, cidade destruída pelos ataques dos terroristas do Estado Islâmico. Ele classificou a aberração estampada pelo Hebdo de “tão má quanto as ações dos criminosos de guerra e terroristas” que causaram mortes e ondas de refugiados em fuga da Síria.
A covardia, racismo explícito e crueldade dos ‘chargistas’ da Charlie Hebdo causaram indignação no mundo inteiro, e estão fazendo cair a máscara desse tipo de gente, que acha que pode desrespeitar quaisquer sentimentos, crenças e dignidade alheias. E que haviam, quando explodira há um ano atrás, em Paris, sobre eles o próprio ódio que disseminavam, buscado capitalizar a natural repulsa a atentados sangrentos.
O pequeno Aylan se tornou seu alvo porque foi a morte absurda dele que virou a favor dos refugiados a opinião pública europeia, que até então se mantinham inerte diante da tragédia vivida por milhões de sírios, e que só ocorria graças ao apoio, treinamento, armas e dinheiro de Washington, Londres, Paris e Riad.
Como se sabe, no Ano Novo na cidade de Colônia mulheres sofreram vexames em que os suspeitos seriam refugiados sírios, não se sabendo se foi realmente uma incursão de alguns desajustados diante da realidade europeia ou meramente uma operação de provocação organizada por algum serviço secreto estrangeiro.
Querem fazer do incidente do Ano Novo a fagulha que acenderá pogroms contra os refugiados sírios. O destaque dado por Riss à ‘charge’ – metade de uma página dupla – é revelador dos objetivos daqueles que estão extremamente insatisfeitos com a presença dos refugiados na Europa e que consideram essa questão uma carta na manga em relação aos acordos em curso sobre o futuro da Síria.
O chargista jordaniano Osama Hajjaj deu uma resposta ao Hebdo, que foi repercutida pela rainha da Jordânia. A lado do pequeno afogado, uma menino mais velho usando uma mochila escolar e depois, um médico. Publicada em árabe, inglês e francês, a charge tem a mesma pergunta inicial do Hebdo: “No que teria se transformado o pequeno Aylan se tivesse crescido?” E a resposta: “Aylan poderia ter sido médico, professor ou pai carinhoso”.       A.P.