Nelson Mandela: “Por este ideal, estou preparado para morrer”

Nelson Mandela: “Por este ideal, estou preparado para morrer” 




Uma das coisas mais repugnantes já ouvidas neste país foi dita no último dia 24 de janeiro, quando, após ser condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4),  Lula se comparou a Nelson Mandela. Para que não haja queixas de que estamos exagerando – ou deformando – o que ocorreu, repetimos as palavras do sr. Lula: “Prenderam o Mandela, ele ficou preso por 27 anos, nem por isso a luta diminuiu. Ele voltou e foi eleito presidente” – e o resto é ainda pior.
Bastante indignado, um ativista negro escreveu, em debate na Internet: “A diferença é que Mandela foi um gigante e Lula é um piolho”.
Com efeito, Lula foi condenado por roubo de dinheiro do povo.
Mandela foi condenado por organizar e empreender a luta armada contra os nazistas do apartheid – e à prisão perpétua, em um lugar tão inóspito quanto a ilha Robben. Durante 27 anos recusou-se a renegar a sua luta em troca da soltura, até que aqueles que o colocaram na prisão acabaram por se render, com a África do Sul explodindo.
É um pouco diferente de quem, como Lula, não consegue resistir ao neoliberalismo nem em seu primeiro ato de governo – que foi o anúncio de que o presidente do Banco Central seria Henrique Meirelles, ex-presidente do BankBoston e deputado eleito pelo PSDB, partido que, supostamente, fora derrotado nas eleições presidenciais de 2002.
No julgamento de Rivonia, em 1964, foram condenados à prisão perpétua, além de  Nelson MandelaWalter Sisulu(libertado após 26 anos de prisão, eleito, em seguida, vice-presidente do Congresso Nacional Africano), Govan Mbeki(depois de 24 anos de prisão, eleito senador; pai do ex-presidente da África do Sul Thabo Mbeki), Ahmed Kathrada (após 26 anos de prisão, eleito deputado), Denis Goldberg (após 22 anos de prisão, tornou-se assessor especial do governo da África do Sul), Andrew Mlangeni (depois de 26 anos de prisão, eleito deputado), Raymond Mhlaba (após 26 anos de prisão, tornou-se premier da província de Eastern Cape) e Elias Motsoaledi (após 26 anos na Ilha Robben, eleito para o Comitê Executivo Nacional do CNA).
Nenhum destes homens recebeu um centavo de alguma Odebrecht sul-africana – ou da De Beers ou da Anglo-American, companhias que exploravam as riquezas da África do Sul e principais beneficiárias do apartheid.
O que fizeram eles, foi expresso, com uma eloquência titânica – até porque simples, sem jogos de retórica -, na declaração ao tribunal de Nelson Mandela.
Durante três horas, a 20 de abril de 1964, Mandela fez uma defesa que, em tudo, é a acusação mais completa e devastadora ao racismo, ao nazismo e à tirania.
É esse documento – somente comparável às declarações de Fidel Castro diante do tribunal da ditadura de Batista; de George Dimitrov, diante do tribunal do IIIº Reich; e, em outra época, à de Karl Marx no julgamento de Colônia – que hoje passamos a publicar, ainda que de forma condensada.
Vê-se aqui, como disse um filósofo de épocas passadas, a pata do leão – isto é, o gigante, diante do qual os piolhos desaparecem.                      Jornal Hora do Povo SP

MANCHETE DOS PRINCIPAIS JORNAIS


  

Fome no mundo aumenta pela primeira vez em mais de 10 anos


O número de pessoas que passam fome no mundo aumentou pela primeira vez em mais de uma década, afetando agora 11% da população mundial. Segundo relatório divulgado pela ONU o crescimento da miséria se deve aos conflitos globais, à Mudança climática e às crises econômicas que assolam o planeta. Em seu informe anual sobre a situação alimentícia, as Nações Unidas afirmaram que 815 milhões de pessoas sofreram desnutrição cronica no ano passado , 38 milhões a mais do que em ano anteriores.


PRINCIPAIS DADOS DO RELATÓRIO

No ano passado, a proporção da população mundial afetada pela fome subiu pela primeira vez em mais de uma década para 11%. Em 2015, o número estava em 10,6%. Em 2005, a porcentagem era de 14,2%.
- As vítimas da fome em 2016 foram 815 milhões, frente a 777 milhões em 2015. O número começou a subir em 2014.
- A maior parte dos afetados pela fome vivem na Ásia (520 milhões), seguida pela África (243 milhões) e a América Latina e o Caribe (42 milhões).
- A África tem a maior porcentagem de vítimas da fome (20%), seguida da Ásia (11,7%) e a América Latina e o Caribe (6,6%).
- Cerca de 155 milhões de crianças menores de 5 anos padecem de desnutrição crônica, com estatura muito baixa para sua idade, e 52 milhões de caquexia, síndrome que causa perda de peso, atrofia muscular, fadiga, fraqueza e perda de apetite.
- Aproximadamente 41 milhões de crianças de menos de cinco anos sofrem de obesidade, que indica mal-nutrição, que afetará aos pobres cada vez mais.
- Os residentes de países afetados por crises prolongadas são 2,5 vezes mais propensos a ter desnutrição do que os moradores de outras nações.
- Um total de 489 milhões de pessoas que passam fome e 122 milhões de crianças vivem em países em conflito.
- A mudança climática, os conflitos e a crise econômica mundial são as principais causas do aumento da fome.

A CAUSA - A CONTRADIÇÃO



5 bilionários brasileiros concentram mesma riqueza que metade mais pobre no país

Cinco bilionários brasileiros concentram patrimônio equivalente à renda da metade mais pobre da população do Brasil, mostra um estudo divulgado pela organização não-governamental britânica Oxfam antes do Fórum Econômico Mundial, que ocorre em Davos, na Suíça.alista é encabeçada por jorge Lemann, Ab ImBev (bebidas ), Burger King (fat food) e Kraft Heinz (alimentos)

  1. Joseph Safra, 78 anos (Banco Safra)
  2. Marcel Herrmann Telles, 67 anos (3G Capital)
  3. Carlos Alberto Sicupira, 69 anos (3G Capital)
  4. Eduardo Saverin, 35 anos (Facebook)

O patrimônio dos bilionários somado cresceu 13% em 2017 e chegou a US$ 549 bilhões No ano em que o mundo teve um acréscimo recorde de bilionários (um a cada dois dias), o Brasil ganhou 12 novos integrantes. O grupo passou de 31 para 43 integrantes em 2017.O patrimônio dos bilionários somado cresceu 13% em 2017 e chegou a US$ 549 bilhões.
A contradição é que no mesmo período uma grande parcela da população mundial ficou mais pobre]. O que o estudos revelam é que os recursos dos mais pobre estão engordando os bilionários ao redor do mundo

"O patrimônio no Brasil foi reduzido como um todo, mas quem perdeu mais era quem já não tinha muito", diz Rafael Georges, coordenador de campanhas da Oxfam.

Para mostrar a distância entre o grupo no topo e o que está na base da escala econômica no Brasil, a Oxfam calculou que uma pessoa remunerada só com salário mínimo precisar trabalhar 19 anos se quiser acumular a quantia ganha em um mês por um integrante do grupo do 0,1% mais rico



PORQUE O GOVERNO QUER MUDAR A PREVIDÊNCIA :  "se a Previdência não passar vai faltar dinheiro para os bancos" (Meireles )

Na exposição e nas propagandas enganosas veiculadas na mídia, o governo tem sustentado que sem reforma a Previdência ficará inviável em 2060. Por isso, é de um cinismo atroz a declaração do sr. Meirelles de que se a reforma não for aprovada ainda no primeiro semestre deste ano a recuperação da atividade econômica será afetada.
“Se por ventura alguma reforma... for deixada para agosto, não é o ideal”, disse a jornalistas em evento em São Paulo, na quarta-feira (10). “Esses dois meses podem ser muito importantes para a expectativa e o crescimento econômico”, afirmou.
O que trava a retomada do crescimento econômico não é a Previdência, mas os juros extorsivos, os maiores do mundo, assim como o corte dos investimentos públicos. A Previdência, além de ser um fator de distribuição de renda, serve inclusive para dinamizar a economia nas pequenas cidades, principalmente no Nordeste.
Misturando alhos com bugalhos, Meirelles asseverou que o texto da reforma aprovado na Comissão Especial da Câmara garante a “ajuste” fiscal: “A reforma como está hoje, está dentro daqueles parâmetros que garantem o ajuste fiscal. Evidentemente, mudanças excessivas podem prejudicar a reforma”.
Ora, o Orçamento da Previdência não tem nada a ver com o Orçamento fiscal. A Previdência têm fontes de receita próprias: as contribuições dos trabalhadores e das empresas, mais a Cofins, CSLL e PIS/Pasep.
Em outro evento, o ministro da Fazenda de Temer ameaçou com aumento de impostos caso não seja aprovada a reforma. Na verdade, quer enquadrar na marra os parlamentares para votarem a favor do esbulho à Previdência.
“A economia brasileira estava claramente desajustada até um ano atrás. Tínhamos um país em recessão profunda e com desemprego elevado, com inflação alta e juros altos. Isso é resultado de uma economia completamente desorganizada”, declarou. E teve a cara de pau de dizer que a economia está se ajustando e “as coisas estão chegando no lugar”. A economia não estava desajustada somente há um ano, mas desde 2011, quando o governo Dilma, da qual Temer e vários dos atuais ministros faziam parte, aderiu ao neoliberalismo, da qual o sr. Meirelles é adepto – e praticou na presidência do BC no governo Lula e agora no Ministério da Fazenda. Haja óleo de peroba.
VALDO ALBUQUERQUEHora do Povo








Para Philip Alston, relator da ONU para pobreza extrema, o texto, prioridade de Temer, é uma "medida radical, desprovida de toda nuance e compaixão"

Brasil: Teto de 20 anos para o gasto publico violará direitos humanos, alerta relator da ONU
GENEBRA (9 de Dezembro, 2016) – Os planos do governo de congelar o gasto social no Brasil por 20 anos são inteiramente incompatíveis com as obrigações de direitos humanos do Brasil, de acordo com o Relator Especial da ONU para extrema pobreza e direitos humanos, Philip Alston.
O efeito principal e inevitável da proposta de emenda constitucional elaborada para forçar um congelamento orçamentário como demonstração de prudência fiscal será o prejuízo aos mais pobres nas próximas décadas, alertou o Relator. A emenda, que deverá ser votada pelo Senado Brasileiro no dia 13 de Dezembro, é conhecida como PEC 55 ou o novo regime fiscal.
“Se adotada, essa emenda bloqueará gastos em níveis inadequados e rapidamente decrescentes na saúdeeducação e segurança social, portanto, colocando toda uma geração futura em risco de receber uma proteção social muito abaixo dos níveis atuais.” 
O Relator Especial nomeado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU recomendou ao Governo Brasileiro que garanta um debate público apropriado sobre a PEC 55, que estime seu impacto sobre os setores mais pobres da sociedade e que identifique outras alternativas para atingir os objetivos de austeridade.
“Uma coisa é certa”, ele ressaltou. “É completamente inapropriado congelar somente o gasto social e atar as mãos de todos os próximos governos por outras duas décadas. Se essa emenda for adotada, colocará o Brasil em uma categoria única em matéria de retrocesso social”. 
O plano de mudar a Constituição para os próximos 20 anos vem de um governo que chegou ao poder depois de um impeachment e que, portanto, jamais apresentou seu programa a um eleitorado. Isso levanta ainda maiores preocupações sobre a proposta de amarrar as mãos de futuros governantes.
O Brasil é a maior economia da América Latina e sofre sua mais grave recessão em décadas, com níveis de desemprego que quase dobraram desde o início de 2015.
O Governo alega que um congelamento de gastos estabelecido na Constituição deverá aumentar a confiança de investidores, reduzindo a dívida pública e a taxa de juros, e que isso, consequentemente, ajudará a tirar o país da recessão. Mas o relator especial alerta que essa medida terá um impacto severo sobre os mais pobres.
“Essa é uma medida radical, desprovida de toda nuance e compaixão”, disse ele. “Vai atingir com mais força os brasileiros mais pobres e mais vulneráveis, aumentando os níveis de desigualdade em uma sociedade já extremamente desigual e, definitivamente, assinala que para o Brasil os direitos sociais terão muito baixa prioridade nos próximos vinte anos.”
Ele acrescentou: “Isso evidentemente viola as obrigações do Brasil de acordo com o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais que o pais ratificou em 1992, que veda a adoção de “medidas deliberadamente regressivas” a não ser que não exista nenhuma outra alternativa e que uma profunda consideração seja dada de modo a garantir que as medidas adotadas sejam necessárias e proporcionais.”
O Sr. Alston apontou que, nas ultimas décadas, o Brasil estabeleceu um impressionante sistema de proteção social voltado para erradicar a pobreza e o reconhecimento dos direitos à educação, saúde, trabalho e segurança social.
“Essas políticas contribuíram substancialmente para reduzir os níveis de pobreza e desigualdade no país. Seria um erro histórico atrasar o relógio nesse momento,” disse ele.
O Plano Nacional de Educação no Brasil clama pelo aumento de 37 bilhões de reais anualmente para prover uma educação de qualidade para todos os estudantes, enquanto a PEC reduzirá o gasto planejado em 47 bilhões de reais nos próximos oito anos. Com mais de 3,8 milhões de crianças fora da escola, o Brasil não pode ignorar o direito deles de ir à escola, nem os direitos de todas as crianças a uma educação de qualidade.
O debate sobre a PEC 55 foi apressadamente conduzido no Congresso Nacional  pelo novo Governo com a limitada participação dos grupos afetados, e sem considerar seu impacto nos direitos humanos. Um estudo recente sugere que 43% dos brasileiros não conhecem a emenda, e entre aqueles que conhecem, a maioria se opõe a ela.
O relator especial, que está em contato com o Governo Brasileiro para entender melhor o processo e a substancia da emenda proposta, ressaltou que “mostrar prudência econômica e fiscal e respeitar as normas internacionais de direitos humanos não são objetivos mutuamente excludentes, já que ambos focam na importância de desenhar medidas cuidadosamente de forma a evitar ao máximo o impacto negativo sobre as pessoas.”
“Efeitos diretamente negativos têm que ser equilibrados com potenciais ganhos a longo prazo, assim como esforços para proteger os mais vulneráveis e os mais pobres na sociedade”, disse ele.
“Estudos econômicos internacionais, incluindo pesquisas do Fundo Monetário internacional, mostram que a consolidação fiscal tipicamente tem efeitos de curto prazo, reduzindo a renda, aumentando o desemprego e a desigualdade de renda. E a longo prazo, não existe evidência empírica que sugira que essas medidas alcançarão os objetivos sugeridos pelo Governo,” salientou o relator especial.
O apelo do Sr. Alston às autoridades brasileiras foi endossado também pelos a Relatora Especial sobre o Direito à Educação, Sra. Koumbou Boly Barry. 



"Dia da Consciência Negra”

Preservar a memória é uma das formas de construir a história. É pela disputa dessa memória, dessa história, que nos últimos 32 anos se comemora no dia 20 de novembro, o "Dia Nacional da Consciência Negra". Nessa data, em 1695, foi assassinado Zumbi, um dos últimos líderes do Quilombo dos Palmares, que se transformou em um grande ícone da resistência negra ao escravismo e da luta pela liberdade, a escolha do dia 20 de novembro foi muito mais do que uma simples oposição ao 13 de maio: "os movimentos sociais escolheram essa data para mostrar o quanto o país está marcado por diferenças e discriminações raciais. Foi também uma luta pela visibilidade do problema. Isso não é pouca coisa, pois o tema do racismo sempre foi negado, dentro e fora do Brasil. Como se não existisse".

Construindo o "Dia da Consciência Negra"

Há 32 anos, o poeta gaúcho Oliveira Silveira sugeria ao seu grupo que o 20 de novembro fosse comemorado como o "Dia Nacional da Consciência Negra", pois era mais significativo para a comunidade negra brasileira do que o 13 de maio. "Treze de maio traição, liberdade sem asas e fome sem pão", assim definia Silveira o "Dia da Abolição da Escravatura" em um de seus poemas. Em 1971 o 20 de novembro foi celebrado pela primeira vez. A idéia se espalhou por outros movimentos sociais de luta contra a discriminação racial e, no final dos anos 1970, já aparecia como proposta nacional do Movimento Negro Unificado.
O 20 de novembro foi escolhido em 1995 por ocasião dos 300 anos na morte de Zumbi dos Palmares (assassinado em 1695), o mais importante líder quilombola de Palmares morto por bandeirantes e tido como mártir dos abolicionistas. Por mais que sua imagem esteja diretamente associada ao Quilombo dos Palmares, Zumbi não participou da fundação comunidade auto-sustentável formada por escravos fugidos dos canaviais brasileiros.
Palmares representou a maior e mais importante comunidade de escravos fugidos nas Américas, com uma população estimada de mais 30 mil. Em várias sociedades escravistas nas Américas existiram fugas de escravos e formação de comunidades como os quilombos. Na Venezuela, foram chamados de cumbes, na Colômbia de palanques e de marrons nos EUA e Caribe. Palmares durou cerca de 140 anos: as primeiras evidências de Palmares são de 1585 e há informações de escravos fugidos na Serra da Barriga até 1740, ou seja, bem depois do assassinato de Zumbi. Embora tenham existido tentativas de tratados de paz os acordos fracassaram e prevaleceu o furor destruidor do poder colonial contra Palmares.
A palavra quilombo tem origem nos termos "kilombo" ou "ochilombo", da língua falada ainda hoje por diversos povos Bantos que habitam a região de Angola. Originalmente, a palavra designava apenas um acampamento utilizado por populações nômades ou em deslocamento.
Os quilombos eram povoados de resistência e seguiam os moldes organizacionais da república. Entretanto, alguns historiadores defendem que muitos quilombos, inclusive o de Palmares apresentava certa hierarquia monárquica, semelhante ao modelo tribal de muitos povos africanos.


“NÃO TEMER, UM GOVERNO NÃO É COMO UMA FAMÍLIA”

Por João Luis Abrantes Bertoli (Economista / integrante da ACD/ Santa Catarina)
No dia 31 de agosto de 2016, logo após o impeachment ter sido aprovado no Senado, Michel Temer foi em cadeia nacional de televisão fazer um pronunciamento. Dentre os absurdos ditos pelo atual presidente, um deles me obrigou a ter que escrever uma resposta. Não que temas como a reforma da previdência e ataques à CLT não mereçam ser motivo de um artigo, mas estes temas já costumam com frequência ser pauta de debates ao menos entre a classe trabalhadora. O que me chamou a atenção no pronunciamento da última quarta-feira foi a seguinte frase: “o governo é como a sua família, se estiver endividada precisa diminuir despesas para pagar as dívidas.”
A lógica de bar e a lógica do Estado
Isso me fez lembrar de um bar que eu ia com os amigos no começo da faculdade, como era estudante costumava frequentá-lo porque vendia a cerveja mais barata da região. Uma vez eu escutei de um freguês antigo deste bar que o dono procurava manter à venda algumas cervejas de baixo preço mas, que em períodos de “vacas gordas” do país, ele passava a vender algumas cervejas mais caras e reconhecidamente de melhor qualidade. O objetivo era não perder a clientela, pois nesses momentos a freguesia passava a frequentar outros bares que
ofereciam cervejas melhores. Quando as “vacas magras” voltavam a aparecer, ele deixava de comprar as cervejas mais caras e vendia apenas as mais baratas. Assim, ele mantinha uma certa
margem de lucro em ambos os momentos.
Esta lógica pode funcionar bem para a gestão de um bar, ou de uma padaria, ou de uma família, ou até de uma empresa, todavia para a gestão estatal esta lógica de cortar gastos para
manter uma rentabilidade não serve. A verdade é que os fins públicos são diferentes dos privados. No primeiro a preocupação é com a economia como um todo (emprego, renda, inflação, investimento e etc.), no segundo é sustentar ou ampliar os lucros.
Para objetivos pedagógicos vamos partir de um orçamento público “equilibrado”, cujas receitas e despesas se igualam. No período de “vacas magras” é normal que a receita caia e as
despesas passem superá-la. Isto acontece porque em períodos de crise a arrecadação do Estado se arrasta para baixo, pois há menor consumo, menor renda e, por consequência, menos impostos são arrecadados. Assim, se adotarmos a lógica privada neste caso e reduzirmos as despesas, procurando “equilibrar” o orçamento, teremos uma nova queda das receitas. Se tentarmos repetir a dose, teremos novamente uma nova queda. Em 2014, o “prejuízo” no Brasil era de R$ 32,5 bilhões. Em 2015, com as políticas de corte no orçamento este número foi para R$ 111,2 bilhões. Isto sem incluir os gastos financeiros (juros da dívida), o que ampliaria ainda mais este número. Este ano, o governo Temer colocou uma meta bem folgada de R$ 170,5 bilhões para garantir que irá cumpri-la.
Ao cortar os gastos, o governo deixa de arrecadar e a diferença entre despesa e receita cresce. Tanto os servidores públicos, como as empresas que deixaram de prestar serviços aos entes estatais, deixam também de consumir e pagar impostos. Desta forma, ao cortar gastos as receitas caem junto, muitas vezes tanto quanto as despesas, pois o efeito sobre o consumo pode se generalizar para toda economia, aprofundando ainda mais a crise.
De maneira geral, a fim de evitar o agravamento da crise, recomenda-se financiar o prejuízo com empréstimos, sustentando a demanda até que se limpe o terreno para um novo período de “vacas gordas”. Neste novo período, as receitas superam as despesas e é possível quitar os empréstimos do período anterior. Todavia, há de se recordar que o Brasil não é para amadores e que não é bem assim que a banda toca.
Um tal de superávit/déficit primário
No Brasil, para as contas nacionais, segue-se a metodologia imposta pelo FMI, que separa o orçamento fiscal do orçamento financeiro. Em suma, o orçamento fiscal revela todos os gastos, exceto os gastos com os juros da dívida pública. A ideia é que no período de “vacas gordas” o Estado produza superávit primário – quando a arrecadação dos impostos, excluídas as despesas financeiras, supera as despesas – para pagar o juros da dívida, estabilizando o endividamento público. Todavia, não é bem assim que acontece.
Entre 1999 e 2013 o Brasil atingiu superávit primário em todos estes anos e mesmo assim a dívida não parou de crescer. Além disso, há algo que não é dito pelos economistas de televisão e que revela inconstitucionalidades e ilegalidades no tocante ao endividamento público: o tal superávit primário não paga o juros da dívida pública por completo, uma parte é pago com a emissão de novos títulos. Assim, contrariam o disposto no artigo 167, inciso III da Constituição Federal (a regra de ouro), que veda o pagamento de despesas financeiras sem prévia aprovação pelo poder legislativo, bem como o disposto no artigo 12, §2º da Lei de Responsabilidade Fiscal. Dados estes todos explicitados em dois relatórios, um feito pelo deputado Ivan Valente (PSOL) na CPI da dívida dos Estados (http://www.auditoriacidada.org.br/wp-content/uploads/2012/08/Voto-em-separado.pdf), e outro feito pela Auditoria Cidadã da Dívida, destinado a auxiliar o Ministério Público Federal na investigação desta questão (http://www.auditoriacidada.org.br/wpcontent/uploads/2013/11/Parecer-ACD-1-Vers%C3%A3o-29-5-2013-com-anexos.pdf).
Independentemente das infrações legais, tal medida faz com que o processo de endividamento cresça mesmo em períodos de “vacas gordas”, minando a possibilidade de superarmos graves problemas sociais e tornando a dívida pública impagável. Além disso, enquanto o estoque de dívida cresce a largos passos, os gastos com outras rubricas (saúde, educação, moradia) continuam engatinhando. Ou seja, a dívida pública brasileira aumenta sem quaisquer contrapartidas sociais, tornando-a absolutamente questionável.
E o que acontece quando o período é de “vacas magras”? Em momentos de crise o processo de endividamento cresce muito mais rápido. Nestes períodos: 1) as despesas fiscais superam a arrecadação; 2) as despesas fiscais são pagas com a emissão de novos títulos da dívida pública, assim como uma parte das despesas financeiras (juros); 3) e outra parte da despesa
financeira são pagas com as receitas das privatizações, além disso nesses períodos a união usa extensivamente recursos do fundo de participação dos estados e dos municípios, desvinculação
de receitas da União (DRU), lucros de estatais etc. Repare: tanto em períodos de “vacas magras” ou “gordas” o Estado continua pagando a dívida pública e transferindo parte do patrimônio
público para o bolso privado.
Orçamento público de interesse privado
Até agora, já falamos de dois elementos que diferem a gestão estatal da gestão privada. O primeiro elemento mostra que quando o governo corta um gasto ele também corta a arrecadação, e o segundo demonstra que a dívida do Estado cresce, independentemente de “vacas gordas” ou “magras” que venham a vir. Ainda, há um terceiro elemento que aumenta, e muito, a complexidade da gestão estatal: o orçamento público é cercado por interesses.
Alguns desses interesses são de cunho mais coletivo, como os que destinam recursos para construir uma escola, um hospital, uma universidade; construir moradias populares, oferecer bolsas ou custear a permanência estudantil; automaticamente nos remetendo a várias questões e a várias lutas das classes populares. Por exemplo, na questão das cotas nas universidades para negros, índios e estudantes de escolas públicas, a disponibilidade de bolsas é fundamental para a oportunizar o ingresso destes indivíduos. E, da mesma forma, também é muito importante os recursos destinados a programas de assistência social, como bolsa família, e também de aposentadoria.
Todavia, no capitalismo os interesses que prevalecem são os interesses de um seleto grupo de empresários, os quais mantêm relações estreitas com setor público. Como disse Paulo Roberto Costa (ex-presidente da Petrobrás) em sua delação: “Não existe doação de empresas que não queiram recuperar [o dinheiro depois]. Quem me disse isso foram empresários. Se ele doa R$ 5 milhões, ele vai querer recuperar R$ 20 milhões”. Neste sentido, estes empresários pressionam os deputados e demais políticos, cujas campanhas eleitorais eles próprios financiaram, para garantir isenções fiscais, privilégios em licitações, recursos para uma rodovia que irá beneficiá-lo no escoamento de seus produtos e por aí vai…
Outro tipo de interesse empresarial é a manutenção dos privilégios financeiros, como por exemplo, a garantia de que o Estado assumirá dívidas das empresas privadas. Trata-se de mais um mecanismo para manter o Estado endividado, tornando-o dependente do setor privado para alavancar recursos ou prestar serviços públicos. Ademais, este processo ocorre sem contrapartidas sociais, pois nestes casos não há uma negociação entre o setor público e o setor privado, em que as empresas se comprometam em não demitir ou não fechar as portas. Atenhome a apenas estes mecanismos, pois creio serem suficientes para mostrar que o orçamento público é capturado por interesses privados de grandes grupos empresariais.
No caso, dentre estes mecanismos, a dívida pública é o maior exemplo de captura do orçamento público, sendo que, no ano de 2015, de todas as receitas da União (financeiras ou não), 42,2% delas foram destinadas à sua manutenção, beneficiando os grandes bancos, bem como as grandes empresas e latifundiários, que também aplicam neste rentável negócio. Vale lembrar que a remuneração dos títulos da dívida pública brasileira é o mais alto do mundo (http://oglobo.globo.com/economia/brasil-continua-com-maior-taxa-de-juros-reais-domundo-18512294).
Assim, verificamos a complexidade que possui o orçamento público, mas que não é incompreensível, e que em nada se parece com um orçamento doméstico. Este tipo de afirmação, “o governo é como a sua família”, tem tão somente a finalidade de iludir o cidadão brasileiro. Cortar gastos de um governo não é como cortar gastos individuais e não é só porque há dívida, que ela tem que ser paga. Ocorre que, quando um cidadão financia um carro ou uma casa ele ao menos recebe o carro ou a casa em troca e, o que não é o caso do Estado brasileiro, a dívida cresce sem retornos para o país! Uma dívida assim não merece ser paga, sem antes ser auditada!
Portanto, por mais tentadora que a comparação possa soar, não, Temer. Um governo não é como uma família!
Texto retirado do site: Auditoria Cidadã da Dívida


SENADO E A AJUDA AOS BANCOS


Aumento da Desvinculação das Receitas da União (DRU) de 20% para 30% da arrecadação retira recursos destinados à Saúde, Educação, Previdência, entre outras necessidades do povo, para pagar juros a banqueiros e demais rentistas
Por 54 votos a 15, o plenário do Senado aprovou na quarta-feira (24) a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 31/2016 que prorroga até 2023 a chamada Desvinculação de Receitas da União (DRU), que permite que o governo utilize livremente parte de todos os impostos e contribuições sociais federais.
O aumento da DRU de 20% para 30% da arrecadação destinada à Saúde, Educação, Previdência, entre outras necessidades do povo, garante o desvio de recursos do Orçamento para os bancos durante sete anos. A medida poderá ser aplicada de forma retroativa desde 1º de janeiro deste ano.
A PEC com a ampliação do percentual da DRU foi encaminhada ao Congresso Nacional pelo governo afastado da Sra. Rousseff em julho do ano passado e é considerada essencial pelo governo interino de Temer para engordar o superávit primário, desvio de recursos para pagamento de juros.
Durante os debates no plenário, pareceu que senadores do PT tinham esquecido esse pequeno detalhe, de que a PEC era uma iniciativa da presidenta honesta. A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) defendeu que o texto fosse encaminhado à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), da qual é presidente, para que fosse rediscutido. O senador Humberto Costa (PT-PE) propôs a diminuição do percentual de 30% para 25%. Já os senadores Temeristas alegaram que a PEC dá maiores condições de governabilidade.
A DRU foi criada em 1994 durante a implantação do Plano Real, sob o nome de Fundo Social de Emergência (FSE) – depois passou a ser chamar Fundo de Estabilização Fiscal (FEF) e finalmente DRU - e tem sido usada sistematicamente para desviar recursos para o superávit primário, uma vez que ela permite o governo alocar onde quiser os recursos desvinculados de sua destinação original. Em 2011, o Congresso aprovou a extensão até o dia 31 de dezembro de 2015. Pelo que estava em vigor, o percentual que o Executivo podia usar livremente era 20%.
A PEC 87/2015 foi anexada à PEC 4/2015, do deputado André Figueiredo (PDT-CE). No Senado, a proposta recebeu o número 31/2016, tendo como relator na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) o senador José Maranhão (PMDB-PB), que destacou que a DRU deve liberar este ano cerca de R$ 120 bilhões, que deverão ser direcionados para a vala comum do superávit primário: R$ 110,9 bilhões de contribuições sociais; R$ 4,6 bilhões da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide); e R$ 2,2 bilhões de receitas decorrentes de taxas.
A PEC aprovou ainda a Desvinculação de Receitas dos Estados, Distrito Federal e dos Municípios (DREM). Pela proposta, ficam desvinculadas 30% das receitas relativas a impostos, taxas e multas, não aplicado às receitas destinadas à Saúde (15% para a União, 12% para estados e 15% para municípios) e à Educação (18% para União e 25% para estados e municípios).
A proposta foi aprovada, em dois turnos, após um acordão entre os senadores para que não fossem esperados os cinco dias úteis entre uma votação e outra, segundo o regimento interno da Casa.
MAIS IMPOSTOS
Em audiência na Câmara dos Deputados, o ministro provisório da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que o aumento de impostos não está sendo avaliado “no momento”, mas não está descartado “no futuro”, supostamente para reequilibrar as contas públicas em 2017. “Não vemos no momento ainda configurada a necessidade de aumentar impostos. Se necessário, sim, a qualquer momento pode haver aumento de imposto. A configuração final será anunciada [semana que vem, com o anúncio da proposta de orçamento]”, afirmou.
“O que eu tenho dito, no entanto, é que a prioridade é o ajuste fiscal. É a meta de déficit primário do ano que vem e esta será cumprida, como será cumprida a meta deste ano. Isso que é o prioritário e o que for necessário será feito”, frisou Meirelles.
Segundo ele, a crise econômica brasileira, com a maior recessão de sua história, é resultante no desequilíbrio das contas públicas. Os maiores juros do mundo e o corte dos investimentos públicos nem pensar. Daí que seu “ajuste fiscal” se baseia unicamente em como repassar mais dinheiro aos bancos.
Já o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, assevera que não vai haver aumento de impostos este ano e em 2017. “Já há decisão da área fazendária neste sentido seguindo orientação do presidente Michel Temer. Não haverá aumento de impostos para 2017”, declarou o ministro de Temer na terça-feira (23).
VALDO ALBUQUERQUE