Meio século depois de Luther King, EUA continua
matando negros desarmados
  Manifestantes marcharam na quarta-feira (17) junto à Casa Branca para denunciar a impunidade dos policiais racistas que matam negros desarmados e são isentados por júris fabricados sob encomenda, na suposta “maior democracia do mundo” e sob o “primeiro presidente negro”, que nada fez para mudar a política de gueto que o colapso de 2008 e seus corolários, o bailout dos bancos, o desemprego, o corte dos gastos sociais e a exacerbação da desigualdade, só fizeram intensificar.
   “Sem justiça, sem paz” e “as vidas de negros importam”ww: meio século depois da luta de Martin Luther King, os linchamentos da lei Jim Crow se transformaram nos assassinatos com distintivo, em que não se poupa sequer crianças. Sob a “tolerância zero”, Ferguson fica em toda a parte, e os protestos reúnem as pessoas de bem, negras, brancas, hispânicas, asiáticas.
As últimas palavras das vítimas desarmadas insistem em não calar: “mãos ao alto, não atire” e “não consigo respirar”. Toda a semana, aparece mais um negro martirizado por aqueles que os deviam proteger. Como os manifestantes clamam da tropa de choque: “a quem vocês servem?”, “a quem vocês protegem?”
   Nos “die-in” que se repetem diariamente no país inteiro, a homenagem aos que caíram mortos, desarmados e até agora sem justiça. Em fóruns e escolas de direito no país inteiro, advogados e estudantes de direito também rejeitam a iniqüidade, deitando-se no chão como os que foram covardemente mortos. Nesta terça-feira, só em Nova Iorque foram quase 500.
  As raízes da segregação são longas: nesta quarta-feira (14), setenta anos depois, um menino negro de 14 anos que foi executado em 1944 na Carolina do Sul sob acusação de ter matado duas meninas brancas, foi declarado postumamente inocente. George Stinney foi julgado, condenado em executado em 83 dias.
  A revisão judicial fora pedida em janeiro por seus familiares sobreviventes. A “confissão” do menino não foi presenciada nem por algum parente, nem por um advogado. O advogado que supostamente o defendeu não apresentou nenhuma testemunha nem fez qualquer pergunta. Também não apelou da sentença. A irmã de George, testemunhou que o menino estava com ela na hora do assassinato, o que jamais foi considerado no “julgamento”. A juíza Carmen Mullen descreveu o caso, que classificou de “trágico”, como “um episódio verdadeiramente desafortunado da nossa história”.