Nelson Mandela: “Por este ideal, estou preparado para morrer”

Nelson Mandela: “Por este ideal, estou preparado para morrer” 




Uma das coisas mais repugnantes já ouvidas neste país foi dita no último dia 24 de janeiro, quando, após ser condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4),  Lula se comparou a Nelson Mandela. Para que não haja queixas de que estamos exagerando – ou deformando – o que ocorreu, repetimos as palavras do sr. Lula: “Prenderam o Mandela, ele ficou preso por 27 anos, nem por isso a luta diminuiu. Ele voltou e foi eleito presidente” – e o resto é ainda pior.
Bastante indignado, um ativista negro escreveu, em debate na Internet: “A diferença é que Mandela foi um gigante e Lula é um piolho”.
Com efeito, Lula foi condenado por roubo de dinheiro do povo.
Mandela foi condenado por organizar e empreender a luta armada contra os nazistas do apartheid – e à prisão perpétua, em um lugar tão inóspito quanto a ilha Robben. Durante 27 anos recusou-se a renegar a sua luta em troca da soltura, até que aqueles que o colocaram na prisão acabaram por se render, com a África do Sul explodindo.
É um pouco diferente de quem, como Lula, não consegue resistir ao neoliberalismo nem em seu primeiro ato de governo – que foi o anúncio de que o presidente do Banco Central seria Henrique Meirelles, ex-presidente do BankBoston e deputado eleito pelo PSDB, partido que, supostamente, fora derrotado nas eleições presidenciais de 2002.
No julgamento de Rivonia, em 1964, foram condenados à prisão perpétua, além de  Nelson MandelaWalter Sisulu(libertado após 26 anos de prisão, eleito, em seguida, vice-presidente do Congresso Nacional Africano), Govan Mbeki(depois de 24 anos de prisão, eleito senador; pai do ex-presidente da África do Sul Thabo Mbeki), Ahmed Kathrada (após 26 anos de prisão, eleito deputado), Denis Goldberg (após 22 anos de prisão, tornou-se assessor especial do governo da África do Sul), Andrew Mlangeni (depois de 26 anos de prisão, eleito deputado), Raymond Mhlaba (após 26 anos de prisão, tornou-se premier da província de Eastern Cape) e Elias Motsoaledi (após 26 anos na Ilha Robben, eleito para o Comitê Executivo Nacional do CNA).
Nenhum destes homens recebeu um centavo de alguma Odebrecht sul-africana – ou da De Beers ou da Anglo-American, companhias que exploravam as riquezas da África do Sul e principais beneficiárias do apartheid.
O que fizeram eles, foi expresso, com uma eloquência titânica – até porque simples, sem jogos de retórica -, na declaração ao tribunal de Nelson Mandela.
Durante três horas, a 20 de abril de 1964, Mandela fez uma defesa que, em tudo, é a acusação mais completa e devastadora ao racismo, ao nazismo e à tirania.
É esse documento – somente comparável às declarações de Fidel Castro diante do tribunal da ditadura de Batista; de George Dimitrov, diante do tribunal do IIIº Reich; e, em outra época, à de Karl Marx no julgamento de Colônia – que hoje passamos a publicar, ainda que de forma condensada.
Vê-se aqui, como disse um filósofo de épocas passadas, a pata do leão – isto é, o gigante, diante do qual os piolhos desaparecem.                      Jornal Hora do Povo SP